Se é utilizador da Nos Play, decerto já ouviu falar ou viu a capa da série Handmaid’s Tale – uma das séries mais premiadas dos últimos anos.
Este “conto” é baseado num romance do mesmo nome da autora Margaret Atwood e retrata um futuro distópico onde as taxas de fertilidade caem em todo o mundo por causa da poluição e de doenças sexualmente transmissíveis. Neste futuro ~longínquo~, um governo totalitário toma conta dos Estados Unidos através de uma guerra civil e tem como premissa um novo regime de poder no qual as mulheres são brutalmente subjugadas e são categorizadas com base na sua fertilidade. Nesta realidade, as mulheres férteis são submetidas a violações ritualizadas por parte dos cargos altos do país de forma a engravidarem para darem filhos aos mesmos e às suas esposas.
Mas e se agora lhe disséssemos que este futuro distópico pode não estar assim tão longínquo?
Na China, onde existem poucas mulheres, uma organização começou a construir uma base de dados para registar mais de 1.8 milhões de mulheres que conta com todo o tipo de detalhes como: números de telefone, moradas, educação, local de residência, número de identificação, estado civil e… “Pronta para reprodução”(BreedReady).
Quem encontrou e trouxe a atenção do público para esta bizarra base de dados foi o hacker Victor Gevers (@0xDUDE) que, numa série de tweets, expôs este caso macabro.
In China, they have a shortage of women. So an organization started to build a database to start registering over 1,8 million women with all kinds of details like phone numbers, addresses, education, location, ID number, marital status, and a ”BreedReady” status? ? pic.twitter.com/fbRKsbNHPJ
— Victor Gevers (@0xDUDE) 9 de março de 2019
Mas a estranheza não acaba aqui, a mulher mais nova desta base de dados tem 15 anos sendo que a mulher mais nova com o estatuto de “Pronta para reprodução” tem 18 anos e a mais velha 32. Existem elementos mais velhos que já não contam com este estatuto. 89% das mulheres é solteira, 10% divorciada e 1% viúva.
The unprotected database is not reachable anymore for the last 5 hrs. We will keep an eye on that IP address for a while to make sure it doesn’t come back online. We still do not know how the owner was or what the database was actually designed for. When we do we will share this.
— Victor Gevers (@0xDUDE) 11 de março de 2019
Até ao momento foi impossível descobrir a quem pertence esta base de dados que Victor Gevers encontrou por acaso numa pesquisa a bases de dados abertas na China.
China has 29808 open databases and is ranking in second place in the top 5 list of countries when it comes to unsafe MongoDB usage in the world. The US has been leading the first position with 45320 servers. Followed by Germany, the Netherlands, and France according to ZoomEye ? pic.twitter.com/DD6GBNt0oh
— Victor Gevers (@0xDUDE) 5 de março de 2019
Mas porque é que é tão importante compreender quais as intenções por de trás de uma base de dados com este tipo de dados? Atualmente, a China tem em falta cerca de 60 milhões de mulheres, desequilibrando o rácio e distorcendo a sociedade pela falta de “noivas”. Esta falta de equilíbrio, que foi agravada pela politica chinesa do filho único, tem vindo a ter repercussões inimagináveis.
Será que a categorização das mulheres em idade fértil(BreedReady) e prontas a serem mães é iniciativa de uma agência do governo que planeia um futuro onde as mulheres em idade fértil terão obrigação de ser mães e veremos uma inversão da politica do filho único onde todas as mulheres serão obrigadas a serem mães e o obrigatório será ter mais do que 1 filho e de preferência do sexo feminino?
Após Victor Gevers expor o caso a base de dados tornou-se inacessível, mas a pergunta mantém-se: qual o verdadeiro intuito desta base de dados? A quem pertence?